sexta-feira, 20 de março de 2009

Silêncio

"Uma pena cai no chão.
Até isso é possível ouvir.
Um bebê chorando ao longe.
Mas aqui, só o silêncio.

Um avião pode cair,
Um desesperado implorar por socorro,
Um acidente acontecer do outro lado da rua,
Mas ainda assim, há o silêncio.

Não que haja escolha.
Obrigada, imposta.
E a surdez permanece.
Para outros sentidos
É como se houvessem amarras nas mãos,
Panos na boca e lacres na alma.

E o silêncio.
Para uma pessoa assim
O paraíso é a poluição sonora."


Fernanda Mallmann.

domingo, 15 de março de 2009

Metade

"Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio.

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
Mas a outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é a platéia
A outra metade é a canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também."


Oswaldo Montenegro.


"..But you know it's true, everything I do, I do it for you..."

Everything I do - Bryan Adams

segunda-feira, 9 de março de 2009

Torpor

"Quando eu saio para a noite,
Observo o luar. E dói.
Porque ele representa exatamente o motivo de minha fuga.
Ele mostra o quão patética eu consigo ser.
Mostra esse coração que tem dois donos.

E por mais que essa dor me consuma,
Parece simplesmente impossível extravasar.
E me sinto quase num torpor infindável.
E dói.

Dói por saber que, no final,
Alguém vai sofrer.
E que esse sofrimento não vai ser só meu.

É como se estivesse impregnado.
Forte demais pra sair.
E dói.

Mas por enquanto a dor é só minha.
E às vezes acho que prefiro ser essa tola dividida,
A obrigar um desses donos a chorar por mim."




Fernanda Mallmann